quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O banho

Um sapato, outro sapato, a saia, uma meia e mais uma, um par de ligas, depois uma camisa e um sutiã. Finalmente umas cuecas vermelhas debruadas a renda de um modelo convencional. Se estivéssemos na tropa diria que as peças se tinha alinhado em fila de pirilau. No ar uma ligeira brisa, fruto da corrente de ar que ela mesmo tinha provocado. Lá fora o calor era insuportável e o homem do ar condicionado hoje não tinha podido ir arranjar a arreliadora avaria. Mas não seria por ele que ela se dirigia ao banho. Fazia-o sempre que chegava a casa e o seu jeito desarrumado de deixar o vestuário fazia também parte das suas fantasias sexuais, Um dia estaria ela no banho, construía mentalmente a cena, e tocariam à porta. Ela, do banho iria gritar, Está aberta e então ele entraria por ali dentro, como se não fosse sempre por ali dentro que se entrasse, mas a língua portuguesa dá-nos liberdade para estes riquíssimos pleonasmos, e seguiria a pista e, quando finalmente se baixasse para lhe pegar nas cuecas caídas quase à beira da banheira, ela sairia em roupão, branco como nos filmes, ele olharia para cima sorriria, levaria nas duas mãos meio fechadas em concha a peça íntima ao nariz e ela sorriria. Do frigorífico tiraria uma garrafa de champanhe e duas flutes geladas e, Trim trim, trim, toca-lhe o telefone mal ela acabara de escorrer o cabelo e, mal enrolada, dirigiu-se ao telemóvel…

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